É uma história efémera de amores e
ódios, que durou por quase 20 anos. Teve de tudo. Intriga, paixão, ganância, e
um final trágico.
Afinal ninguém o vendeu, também ninguém
o comprou, e pelo meio ficaram os mesmos de sempre. Os medíocres desta terra.
Mas afinal como tudo começou?
Foi o Progresso, genuíno clube de
Paranhos, que tinha então a sua sede no 68 da rua Carlos da Maia, bem perto do
descampado de Arca D’Água.
Era aqui que a juventude de então, dava
largas ao seu entusiasmo pelo futebol.
Local “adequado” ao futebol, tinha
acrescidas vantagens sobre outros. Dispunha de água em abundância, o que o
dotava dos convenientes “balneários”, que noutros lados não se tinham.
A utilização devia ser intensa, a
avaliar pelas convocatórias que os jornais da cidade faziam dos frequentes
desafios populares.
Mas este futebol sempre gerou
anti-corpos, que debaixo de um fingimento muito próprio, sempre trazia melhores
“alternativas”
É assim que o Primeiro de Janeiro, em
1919, sugere em artigo que publica, que devia fazer ali a tão indispensável
piscina municipal, equipamento fundamental ao exercício físico da juventude, e
usufruindo das excepcionais disponibilidades em água com fartura, e ainda
porque assim se erradicava dali o incomodativo futebol.
Mas os tempos passam, e de piscina
nada. A revista O Sporting trás então (1922) à cena, novamente, o assunto.
Publica uma acta da Câmara, onde se justifica a não construção daquele
equipamento dados os elevados e insuportáveis custos para a autarquia.
Mas refere-se que a zona vai ser
ajardinada, e contará até com um lago. Mais tarde, poderá este ser a piscina
falada!
Entretanto o Progresso, clube de gente
dinâmica e empreendedora, abalança-se à construção de um campo de jogos, que
lhe possibilitasse outros voos (1922).
Na época anterior tinha começado a
competir na Associação Distrital, onde se filiara.
É então que em 10 de Junho de 1923
procede à inauguração do seu campo.
São 3 equipas da cidade que estão
presentes no seu festival. Salgueiros, Boavista e Porto.
Logo elege em AG uma Comissão de
Melhorias, que haveria de dotar o campo de condições adequadas. Nascia o
estádio do Ameal. Aqui se jogaram desafios internacionais da selecção
portuguesa, com vitórias retumbantes.
Fica o campo à face da rua do Amial. Tinha
também como limite a travessa do Amial, mais tarde designada por “Sport
Progresso”, e hoje inexistente.
Hoje, com toda a certeza, pode-se situar exactamente o campo na confluência das actuais ruas doutor Carlos Ramos como coronel Almeida Valente. O levantamento fotográfico que a CM do Porto mandou fazer em 1939, não deixa dúvidas da localização do campo. Assunto encerrado.
Hoje, com toda a certeza, pode-se situar exactamente o campo na confluência das actuais ruas doutor Carlos Ramos como coronel Almeida Valente. O levantamento fotográfico que a CM do Porto mandou fazer em 1939, não deixa dúvidas da localização do campo. Assunto encerrado.
Contam alguns, até invocando
“argumentos” familiares, que o campo ficava onde hoje está o Colégio
Luso-Francês. Não ficava. Este começou a funcionar em 1936, ocupando um
palacete ali existente (e que ainda lá está), e o campo em 1938 ainda era usado
no futebol nacional
Mas em 1934 o clube passa por uma grave
situação financeira, que coloca tudo em jogo. Nunca se recuperará da situação.
Assoberbado por dívidas, sem capacidade para manter o campo, já então em
degradação, cria-se uma rábula, com o objectivo de encontrar interessados no
campo.
As peripécias são profusamente
“relatadas” num jornal da cidade, mas o Progresso não consegue competir nesse
ano, pese a intervenção do governador civil, que nomeou uma comissão
administrativa. A normalidade volta por poucos anos, até que surge o grande
cisma, com o campeonato 37/38.
O regulamento não permite a partilha do
mesmo campo por 2 clubes da mesma prova nacional. O Porto, não pode usar o
Lima, e a Constituição limita substancialmente as receitas. Pensa no Ameal, e
faz com o Progresso um contrato. Anuncia-o o Comércio do Porto de 1 de Janeiro
de 1938.
Mas as arestas não foram limadas, e
começa a guerra do diz que diz.
O Progresso acusa o Porto, através da
Comissão do Campo, de pretender comprar uma das partes do campo. Este tinha 3
proprietários, e duas metades. Uma delas, que integrava a bancada, veria
finalizar o arrendamento em Setembro.
Mas o Progresso diz que nunca cederá a
outra parte, e como o pensado alargamento do campo nos terrenos traseiros à
bancada, pensado pela Comissão, dizem, não terá viabilidade, pois a Câmara
projecta uma avenida até ao “hospital da cidade” na Asprela, que se irá fazer.
A Comissão entretanto, publica um
comunicado, dizendo que não tem intenções de compra do terreno, e que apenas
sugeriu ao clube que fizesse o acordo apenas por uma ano.
Nesta guerrilha com um campo no meio,
outro jornal da cidade faz o ponto da situação (Maio 1938), dizendo:
“No início
da temporada, o Sport Progresso e o FC do Porto jogaram uma verdadeira
cabra-cega devido ao campo do Amial.
O Progresso,
conforme as negociações iam caminhando, caminhava também nas exigências. Por
fim, interrompidas as negociações, os dirigentes do FCP ouviram das boas e
bonitas, proferidas pelos dirigentes progressistas.
Os adeptos destes, instigados a
defenderam-se de quem lhes queria o campo, reagiram a quente, e destruíram as
bancadas, Também acabava o Ameal.
Foi a debilidade financeira do clube
arrendatário, a cobiça dos proprietários, e o regulamento da prova 37/38, que
lhe apressaram o fim.
Com muito sacrifício e dificuldade,
abalançou-se o clube a encontrar alternativas, que surgem em 1947. Com a ajuda
da Federação, consegue o Progresso instalar ainda na rua do Amial, mas agora do
outro lado da Circunvalação. Longe das origens em Paranhos, mas ainda na
cidade.
É este campo, também conhecido por campo do Amial, mas Queirós Sobrinho de seu verdadeiro nome, que agora está impedido de
usar, pois a sua exiguidade coloca-lhe condicionamentos. Contudo, as obras em
curso vão fazê-lo retomar um trajecto digno, que os seus 107 anos lhe outorgam.
Entretanto, a avenida majestosa até ao
hospital, ficou reduzida a uma insignificante rua que não chega a metade do
percurso.
O estádio não deu mais proventos.
Desportivos ou financeiros, e os seus terrenos acabaram numas urbanizações
tristes e cinzentas.
Mas o local é achacado a histórias “desportivas”.
Em 1938, o governo civil patrocinou a iniciativa de construção de um estádio
distrital. A proposta vencedora implantava-o nas proximidades. Coisa ampla e
sumptuosa, exactamente onde mais tarde, mas agora em muito menos terreno, se
projectou o estádio do Salgueiros. Está lá um rústico e decorativo charco…
7 comentários:
Uma história que reflete uma realidade de outros tempos, que também se jogava...fora das quatro linhas. Soberbo.
Excelente trabalho ! Parabéns ! Finalmente percebi a situação criada e os factos que entretanto aconteceram!
Não hà dúvida que se me dissiparam muitas dúvidas em relação a esta história que ouvi contar o meu pai e outros amigos mas este relato vai fazer-me continuar com a busca e aprofundar este estádio, assim como o campo da Rainha. Obrigado.
-António Dias
sobre o campo do Amial ainda há muito a contar. Para começar a localização exacta, que nunca consegui encontrar nada que me definisse a localização.
O campo da rua da Raínha (Antero de Quental), ainda há pouco tempo lá estava a porta de entrada. A sua demolição deve-se à expansão da fábrica de Salgueiros, de que também ainda existe uma parede lateral na travessa do mesmo nome.
Finalmente, e sem quaisquer dúvidas, é possível localizar o campo, a partir do levantamento mandado executar pela Câmara Municipal em 1940.
Ver "Fotografia aérea da cidade do Porto" - ver fiada 19, nº 423.
Vamos fazer uma vaquinha para recuperar a grandeza do Sport Progresso
Que comece aqui tudo
Outros passaram pelo mesmo .salgueiros. E agora está de volta..vamos erguer o sport.progresso.
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